Entrevista

'Somos uma entidade que preserva valores, cultura, família', diz Erival Bertolini

Lizie Antonello

Ex-coordenador do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e da 13ª Região Tradicionalista e ex-presidente da Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha (CBTG), Erival Bertolini é uma referência do tradicionalismo para Santa Maria e para o Rio Grande do Sul.

Filho de Espumoso e santa-mariense de coração (lá se vão 44 anos de história nestes pagos), Bertolini, 66 anos, recebeu o Diário em seu apartamento no bairro Medianeira, para onde voltou há três meses, quando deixou Porto Alegre.

Sem sorver o chimarrão que a mulher, Maria Isabel, 66, preparou _ ele tem intolerância à cafeína _, mas devidamente pilchado de bombacha e bota, não quis polemizar. Por duas horas, falou sobre as críticas que o tradicionalismo vem recebendo.
Amável, sorriu, emocionou-se e chorou ao falar sobre o tema que norteia sua vida. E, para os que lhe viram andando pelas ruas de tênis e abrigo, garante que não abandonou a pilcha. Nem os bailes. Está apenas "de canto", reservado.

Diário de Santa Maria _ Como o senhor se sente diante das polêmicas envolvendo o tradicionalismo?
Erival Bertolini _ Estou muito triste. Não estamos tendo apoio. O Estado deveria se preocupar mais com as nossas tradições, não no discurso e não no palanque. Ouvi um discurso que Santa Maria seria a capital do tradicionalismo. Hoje está sendo a capital dos CTGs fechados. Não culpem os bombeiros ou a boate Kiss. Temos que ter segurança. Ajudei na elaboração da nova lei de prevenção a incêndios. Mas me retirei porque temos que saber sair. Me parece que estão querendo terminar com as tradições. Temos regulamentos para preservar a cultura. Não pode cada um fazer as coisas a seu bel prazer.

Diário _ O senhor está decepcionado com a interdição dos CTGs em Santa Maria?
Bertolini _ Temos crianças vendendo docinhos para comprar a indumentária e, agora, elas estão com o CTG fechado. Não pode. Multaram os motoristas que levavam os integrantes do desfile. Vejam o que vai ser o desfile em Santa Maria neste ano: um desastre. Lamento profundamente. Sonhei tão alto. Acreditei nos discursos que não têm valor.

Diário _ O tradicionalismo foi abalado?
Bertolini _ O movimento está sofrendo um baque muito grande. Não vai acabar. Vai se fortalecer porque temos quatro ou cinco gerações na mesma direção (emocionado) preservando tudo que tem de bom nesta terra. Mas estão comprimindo uma mola. E o povo oprimido, quando reage, é violentamente.

Diário _ Por que o senhor renunciou à presidência da CBTG?
Bertolini _ Já com 66 anos, percebi que não poderia realizar o trabalho como ele deveria ser feito e estava me comprometendo financeiramente. Resolvi cuidar da minha família e voltar para Santa Maria. Estou aqui assistindo de camarote a tudo que está acontecendo. Fiz a volta e entrei no fim da fila, sou peão de novo. Acho que, se tivesse sido a vida inteira, teria sido bem mais feliz.

Diário _ Por quê?
Bertolini _ Para mim, movimento tradicionalista gaúcho é para se confraternizar. Tradição é como um riacho. Ele corre perene eternamente e não causa nenhum dano à natureza. Quando o direcionamos, colocamos barreiras, mudamos o seu curso, temos resultados desastrosos. E somos culpados por isso. Nossas tradições também são assim. As coisas irão acontecer e iremos respeitar, mas ninguém pode interferir.

Diário _ O senhor acha que o MTG tende a uma abertura em relação à homoafetividade?
Bertolini _ Alguém disse que enquanto MTG não mudar conceitos não deixará de haver preconceito. Mas somos uma entidade que preserva valores, cultura, família e estamos quietos fazendo isso nas nossas entidades. Não interferimos nas decisões de outros segmentos da sociedade. Nós não discriminamos. Nossas prendas não tiram a roupa para conseguir as

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